ZzzZ. ZzzZ. Ele vem me atormentar. Não posso dormir de um lado, muito menos de outro. O zumbido me entorpece até que pego no sono lentamente e sou induzida a um coma profundo de algumas horas.
Vagamente acordo e ele ainda está lá. Ele me pergunta se pode me passar um café. Eu não consigo organizar minhas idéias e ele avança sobre mim. Antes que eu possa me mexer, ele me acolhe e fala comigo sobre algo que não entendo mais do que as vogais. ZzzZ. ZzzZ. Eu acordo e olho para os lados: não tem ninguém lá.
Não passou de um sonho. Não passou de um sonho. Repito para mim mesma até me acalmar e conseguir mandar minhas pernas levantarem.
Infelizmente.
Toda noite quando me deito, ele volta. Aquele mesmo zumzumzum de sempre, sem desafinar nadinha. É como se uma sombra passasse por cima de mim. E eu não sinto medo. Não consigo. É como se uma parte de mim pairasse todas as noites sob meu corpo e me deixasse atônita até eu conseguir abrir meus olhos. Mesmo que fosse em sonho, eu não conseguia temer aquilo. Piscava e encarava o vazio todas as manhãs, esperando que houvesse algo novo me esperando. Como se aquele barulho que me acompanhava todas as noites fosse se tornar alguém, e um alguém que eu preciso tanto. Ainda não consigo colocar na minha cabeça que não passa de um zunido. Não passa de um zunido.
Mas aquele fio de esperança sempre me mantém ali, colada. Elevo os travesseiros até as orelhas e continuo ouvindo. Como se uma abelha tivesse entrando em minha cabeça e perambulasse ali, livremente. E a pior parte de tudo isso é saber que se todo aquele barulho me deixasse em paz, me sentiria ansiosa procurando algo para zunir em minha mente de novo.