sexta-feira, 13 de maio de 2011

Tolerante, tolerância

Cansei dessa coisa de me explicar, acho que tudo não passa de falta de interpretação de texto. Sento e olho sentindo pena da preguiça de quem tem o cérebro atrofiado. De quem lê mas não entende o que lê, e ainda acha que está bom assim, "porque pelo menos sabe ler". Saber ler? Que diferença faz? Ninguém liga se você sabe ler mas não consegue entender, não consegue extrair informações. Eu meio que aprendi o alfabeto, o som das palavras e a ler sozinha com uns 5 ou 6 anos (depois disso, entrei para a pré-escola). Todas as tardes, religiosamente, eu sentava na sala com meu pai, que enquanto tomava chimarrão, me fazia ler em voz alta pequenas reportagens que circulavam pela agência na qual ele trabalhava. Isso fez uma grande diferença pra mim e para minha leitura, para a minha vontade de ler. De saber que era bom, de saber que eu era capaz de entender. Meu pai sempre perguntava o que eu havia entendido, e me encorajava a ler de novo, até entender. Esse hábito, esse incentivo, é o que eu mais sinto falta em discussões, em debates. A leitura já não é mais fonte de informação - e sim uma bengala para citações. 
Quando fala-se em "incentivo à leitura", a maioria das pessoas já se sente obrigada a entender Machado de Assis e Freud, sendo que (a maioria) não lê nem o nome dos produtos em um encarte de supermercados e se guia pelas figuras. Incentivar a leitura não é empurrar 6700 páginas que incluem palavras tão complicadas que quem lê é obrigado a procurar em um dicionário. O incentivo à leitura (e releitura) deveria ser diário, deveria envolver contextualização, deveria colocar leitura onde não se vêem palavras: se ouvem. 
A memorização das formas de escrita é muito mais importante do que engolir, de colher de sopa, nomenclaturas e regras de gramática. E sempre vem o bonde das conversinhas que abrangem somente o clima pela falta de conhecimento de outros assuntos, pela falta de conhecimento de outras palavras e pela preguiça de soltar a língua e desenrolar opiniões. A necessidade de uma reeducação sobre o sentido das palavras surge com intensidade, porque falar em "leitura" em um país onde a maioria das pessoas não sabe onde vai s, não sabe onde vai z, não sabe onde vai g e não sabe onde vai j, é uma utopia - até mesmo para aqueles que sabem que não, não é necessário entender Nietzsche falando "nóis". Quem entende qualquer coisa sente-se oprimido por quem entende nada. Quem entende qualquer coisa não tem com quem conversar. Não tem com quem debater o último livro que leu, ou a crise na Líbia. As informações aparecem na mesma velocidade em que é possível acender uma lâmpada - mas parece até que não é possível pensar, não é possível querer, não é possível ler. "Não tenho tempo", sempre diz a pessoa que só se interessa em ir na festa da Robertinha e quer passar no vestibular para Medicina.  
quarta-feira, 11 de maio de 2011

Arranhar-me-ei

Que coisa vil essa vida sem sofrimentos. Pura, puta, impura, imputa e já não sei mais sobre o que falo. Não me cativo, simplesmente reparo nas baratas que me cercam com tal normalidade que chego a nomeá-las. Ó, dor, não me quer mais? Eu sinto sua falta. Aquela ferida sangrenta faz falta, tinha alguma coisa pra cobrir. Alguma coisa que era legitimamente minha. E o que é meu, afinal? Minha personalidade? Minhas atitudes? Minha alma? Nenhum mero rastro, nenhuma certeza. As unhas que um dia pintei, hoje não crescem mais. Os pincéis que um dia passei em minhas pálpebras, hoje não saem mais da gaveta. E isso tudo é normal, extremamente natural, já que não existem opiniões de fora, não existem segundos, terceiros ou quartos olhos. 

Só os meus. Só os meus. Os meus amores foram embora - não porque quiseram, mas porque os expurguei. Os abandonei. Sumam. Inúteis, só servem para me fazer sentir como se fosse dona de alguma coisa. Não quero uma coroa, quero que me corroa. Não quero café na cama, não quero louça lavada, não quero suas mãos em nada que é meu. Quero silêncio, quero gelo, quero entorpecer de frio. Quero causar minhas próprias feridas, quero criar fantasmas, quero encarar o espelho. Quero que me digam que não, isso não é o que eu quero. 
 

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