quarta-feira, 11 de maio de 2011

Arranhar-me-ei

Que coisa vil essa vida sem sofrimentos. Pura, puta, impura, imputa e já não sei mais sobre o que falo. Não me cativo, simplesmente reparo nas baratas que me cercam com tal normalidade que chego a nomeá-las. Ó, dor, não me quer mais? Eu sinto sua falta. Aquela ferida sangrenta faz falta, tinha alguma coisa pra cobrir. Alguma coisa que era legitimamente minha. E o que é meu, afinal? Minha personalidade? Minhas atitudes? Minha alma? Nenhum mero rastro, nenhuma certeza. As unhas que um dia pintei, hoje não crescem mais. Os pincéis que um dia passei em minhas pálpebras, hoje não saem mais da gaveta. E isso tudo é normal, extremamente natural, já que não existem opiniões de fora, não existem segundos, terceiros ou quartos olhos. 

Só os meus. Só os meus. Os meus amores foram embora - não porque quiseram, mas porque os expurguei. Os abandonei. Sumam. Inúteis, só servem para me fazer sentir como se fosse dona de alguma coisa. Não quero uma coroa, quero que me corroa. Não quero café na cama, não quero louça lavada, não quero suas mãos em nada que é meu. Quero silêncio, quero gelo, quero entorpecer de frio. Quero causar minhas próprias feridas, quero criar fantasmas, quero encarar o espelho. Quero que me digam que não, isso não é o que eu quero. 

1 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito de tudo que escreve, estou seguindo!

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